Querer e Desejar a Sutileza que Distancia Essas Duas Qualidades
Pensamos, Sentimos e Queremos.
Todos nós, seres humanos, independente de idade, nacionalidade, classe social, gênero, somos portadores de três faculdades da alma que são próprias dos seres humanos: O pensar, o sentir e o querer.
Para chegar ao entendimento do querer precisamos voltar nosso olhar também para o pensar e o sentir que andam juntos com nosso querer.
Convido você a junto comigo percorrer essa linha de pensamento que abrange essas faculdades da alma humana. Vamos começar pelo pensar que de está mais próximo a nós, no que se refere a consciência, temos mais domínio sobre nossos pensamentos, pensamos livremente, no querer já não somos tão livres, nem tudo o que queremos nos é possível fazer.
No pensar é onde temos mais consciência, mais liberdade e autonomia, ainda que não consigamos controlar o pensar 100%, nós podemos pensar o que bem entendermos.
No pensamento somos livres, se quisermos nos apropriar dessa capacidade, podemos ter pensamentos próprios, gerados em nossas próprias ideias, mesmo que possamos elaborar ideias que nos são inspiradas ou que nos sirvam de base, independentes das ideias de outras pessoas
No sentir estamos dormindo, adormecidas, e temos menos domínio que no pensar. Precisamos muita determinação para mudar um sentimento que surge controlar uma emoção que nos invade o coração.
E no querer estamos completamente em estado de sonho, sonho profundo. Por isso confundimos o querer com o resultado dele, que é a ação.
É o querer que nos leva a ação. A ação não é uma força que nasce e vive dentro da gente, a ação é a consequência. Por isso Rudolf Steiner,* em seus textos, fala em querer e não agir, pois enquanto força humana, é o querer que está no mesmo nível do pensar e do sentir. A ação é um efeito da atividade de querer que impulsiona a partir de dentro para realizar algo no mundo externo.
Na relação com o que nos chega do mundo, pensamos o que recebemos via os sentidos visão, audição, tato etc), esse pensar que é tão rápido, ás vezes chega a ser despercebido. Quando nos damos conta já estamos sob o efeito de pensamentos. Os efeitos do pensar nos ativa o sentir, provocando sensações, emoções, sentimentos.
E esses efeitos do sentir nos faz querer algo e automaticamente nos movemos na direção de realizar esse algo. Nos damos conta disso quando já estamos realizando, o querer em si, interno, é tão sutil que não nos damos conta dele.
O querer é profundo e permanente, quando queremos algo nos mobilizamos internamente para realizar o que de dentro nos impulsiona o concretizar no mundo, o querer vem da alma, o querer vem do coração e nos direciona para o futuro a partir das ações no presente. Já o desejo tem uma qualidade efêmera, superficial e está fortemente vinculado a coisas materiais ou pessoas.
Quando desejamos algo, nos movimentamos para conquistar, porém, ao conquistarmos, logo elegemos um novo alvo. Essa situação que diferencia o querer do desejar é muito bem descrita pelo autor Jorge Forbes em seu livro “Você quer o que deseja?”, que aliás indico para quem quiser se aprofundas nesse tema.
Quando desejamos ardentemente comer uma macarronada ou uma certa comida, por exemplo, ilustra muito bem a qualidade do desejo. Quando comemos a macarronada, nosso desejo é satisfeito e naquele momento não há desdobramentos do desejo, em continuar comendo macarronada ao longo de dias, continuamente.
No querer a vontade está vinculada á ação, o que eu entrego de mim para o mundo, no que posso, por livre escolha, contribuir para a vida, para o mundo e as pessoas, para mim mesma, com minhas ações. O querer carrega a qualidade de constância, de manter algo que vem da minha vontade interior e que realizo. Claro que no realizar do querer desdobramentos podem acontecer, um passo de querer pode e geralmente leva na direção de outras ações, que em liberdade assumiremos realiza, de forma pessoal ou em grupos e comunidades.
Entendemos o querer como um impulso que vem de dentro e o desejo, como um impulso estimulado a partir de algo que está fora de mim e não envolve necessariamente uma cujo resultado se perpetuará ou sofrerá desdobramentos significativos.o
Nossa relação com o mundo, com o que a vida nos trás, inicia com o pensar e se realiza em ação, com o querer !
Algo nos chega, o pensar gera pensamentos, que nos provoca emoções, sentimentos etc e a partir disso somos impulsionadas a ação pelo querer inconsciente de algo… o querer é visceral.
Por exemplo: É o querer que nos impulsiona a colocar o braço na frente de uma criança que está ao nosso lado, dentro do carro, num momento de uma freada brusca. Nesse situação tudo acontece muito rapidamente. Sabemos que a criança pode se ferir pois não controlará o movimento do corpo frente a freada brusca, e pensamos essa situação em frações de segundos. Essa possível realidade nos afeta emocionalmente e nossa ação é imediata e até inconsciente. Claro que tem uma série de reações hormonais envolvidas, também.
A ideia é gente conseguir desenvolver o discernimento no pensar, para organizar todo o mais na nossa vida à partir de uma relação mais equilibrada entre pensar, sentir e querer. Isso vai acontecer se estivarmos em um caminho de autoconhecimento
É fácil confundir as coisas: vontade, desejo, querer. Porquê o desejo é do âmbito do pensar e o querer do âmbito da vontade, vontade que nos leva a realização efetiva.
O querer leva a uma realização e se não realizamos, só pensamos que queremos, então, desejamos querer e só queremos de fato quando realizamos.
Parece meio doido isso né!? Mas, é bem interessante.
É dito que a questão central da humanidade, hoje, é a falta de vontade, de querer genuíno, pessoal. Estamos dando voltas, rodando entre pensar e sentir, um jogando pro outro e pouco querer de fato. Uma busca por satisfazer muito o desejo, que pode vir de um pensar estéreo de significado, pela impressão artificializante, de uma busca por coisas sem sentido, vivemos muito da aparência, os valores do eternamente jovem, do imortalizar-se, não aceitamos o ritmo natural da vida, rejeitamos a nós mesmas.
Esse vai e vem entre pensar e sentir, num círculo vicioso interno, nos impede de atuar na nossa vida e no mundo conforme nossos valores, nossos potenciais.
Mas, tem um caminho para mudar isso.
Quando colocamos em ação algo que surgiu da vontade, fortalecemos nosso querer. Quando criamos muitos desejos mais não realizamos a partir do querer interior enfraquecemos, nos desvitalizamos.
Então a chave da virada é: pense na viabilidade do que você deseja. Perceba como você se sente pensando na idéias do que está querendo, se faz sentido para você e então, faça, coloque o querer no mundo. Isso fortalece a individualidade, fortalece o caminho e a ligação com o propósito.
Quanto mais realizarmos a partir do que queremos, como um impulso da vontade, mais fortes nos tornaremos, mas conseguiremos realizar e mais o mundo irá conspirar para que nossas idéias possam se tornar realidade no mundo.
O seguinte verso, de Goethe ilustra muito bem essa ideia:
"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor."
Goethe Tweet
O que você pensa e sente sobre tudo isso?
O que tudo isso desperta em você como força da vontade?
O que tudo isso pode revelar de sua história de vida, nas suas diferentes fases?
*(Filósofo Austríaco que deixou como legado para a humanidade a Antroposofia)